O melhor travesseiro : Hotel Sukothai , Bangkok.
A melhor comida: Thai Soup with Chili, no café da manhā.
O melhor colírio: Mercado das Flores em Bangkok.
A melhor indulgência:33 dias de viagem, 30 massagens.
O melhor passeio : Olhar os templos de Bagan ao nascer do dia dentro de um Balão.
O melhor quarto de hotel : Amanjiwo , Java.
O melhor presente: Ganhar de um amigo , sementes de Flor de Lotus.
A melhor refeição: Em cima de uma mesa de palha, no meio da estrada, um almoço balinês, super saboroso e apimentado.
A melhor passagem: Tomar um bom vinho, num bar, nas calçadas de Luang Prabang.
A melhor paisagem: Pedalando pelos Campos de Arroz, em Bali.
O melhor gesto : O cumprimento dos asiáticos com as mãos unidas na frente do peito.
O melhor sorriso : Ketut Lyier, banguela (o verdadeiro Medicine Man de "Comer,Rezar e Amar ").
O melhor som: Os nossos nomes escritos dentro do maior sino do mundo em Ava, Myanmar .
O melhor Spa : Nossas Gargalhadas na madrugada.
A melhor leitura: A das "mãos" em Yangon.
O tom mais bonito : Amanhecer em Borobudour.
O melhor meio de transporte : Voltar do jantar no Camboja de Tuk Tuk.
O melhor timing : A agencia de turismo Lycia C.Reys
A melhor descoberta : Poder viver, sentir e amar o momento presente.
A melhor inspiração: Admirar a arte feita com as próprias mãos.
A melhor Companhia de Viagem : Lilian Kogan
Querida Lilian :
Que estes 33 dias que vivemos todas estas maravilhosas experiências sejam gravados em nossas memórias como algo sagrado que ficará no espaço entre nossos passados e futuros ! Yahoo ! Obrigada pela sua melhor companhia !!!
Silvia F.
.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Serendipity
Estou terminando esta escrita na casa do nosso querido amigo francês JFF, em Ubud.
Deitada na rede da varanda, admirando os campos de arroz, extasiada com a beleza que circunda a casa de Jean.
Sons se sobrepondo acima das brumas, nos arrozais.
Todos em harmonia, galos, grilos, sapos...ahh agora vários passarinhos se fazem notar, para que eu não os esqueça jamais, jamais!
Levo da Ásia essas recordaçōes quase inefáveis.
Levo também, o aprendizado das possibilidades dos entrelaçamentos das culturas.
Levo as trocas de olhares, a delicadeza dos gestos de acolhimento de cada um.
Levo a experiência que deverá ser partilhada com cada ser que eu encontrar em meu caminho.
Levo a cultura do valor de fazer com as próprias mãos, do orgulho de receber os ensinamentos doados e transmitidos, de geração à geração.Que talvez, por nossa desconexão e agressividade ocidental, tenhamos nos afastado tanto.
Ainda levo comigo:
O novo aprendizado dos espaços - entre, aqueles que nos propusermos a viver.
Eles são de fácil acesso, é só sossegar o espírito e apurar os sentidos.
A simplicidade de cada família com seu templo ao fundo de suas casas.
A beleza dentro dessas casas e em torno delas, por mais pobre que sejam e que nossos olhos domesticados possam compreender.
As danças e rituais constantes, com tanta inocência, que me fez entender o que era de fato uma troca com abundância.
As oferendas diárias aos deuses, que para eles não faz diferença se depois de ofertadas (na frente das casas, lojas, templos; lindamentes adornadas em folhas de bananeira, meticulosamente dobradas em quadradinhos) serão ingeridas ou remexidas pelos inúmeros cachorros que vagueiam soltos pelas vielas.
E foi numa dessas cenas, depois de observar um cachorrinho se deleitar em revirar a " canoinha de bananeira", que senti como a impermanência, a entrega e o ritual realmente fazem parte do cotidiano deles.
Como a gente se apega tanto ao resultado ao invés de nos conscientizarmos das ofertas, da entrega de coração, dos rituais que não tem a primeira pessoa do singular no altar.
Como a gente ainda precisa de tanto " aplauso" para cada gesto que fazemos!
De fato estamos percebendo (que bom!) que fomos nos afastando da conexão com o Nosso Campo Sagrado.
Um campo de infinitas possibilidades, mas com certeza com a reverência a algo que pertence à uma outra dimensão.
Uma dimensão que vibra em uma oitava superior, que ressoa dos e pelos encontros dos seres que habitam o mesmo teto, o mesmo planeta.
E só com muita simplicidade de espírito, sorrisos genuínos, gargalhadas soltas e muita atenção, delicadeza e gratidão em cada atitude, talvez, possamos experimentar e celebrar a vida com a leveza que eles experienciam.
Olhar com interesse para cada ser que nos habita, olhar para cada desconhecido com o olhar curioso das crianças que dias depois no mesmo mercado, mesmo sem termos nos encontrado mais do que uma vez, me chamavam de Lili!
E eu envergonhada, minutos após ser apresentada à alguém ,tenho dificuldade em lembrar!
Levo um pouco desse néctar de um povo que esta de fato conectado!
Obrigada a cada palavra registrada por todos vocês nesse blog, ele já é parte do compartilhar com consciência.
Obrigada Silvia, minha querida amiga de tantas jornadas, a fotógrafa e diagramadora desse Blog, por 33 maravilhosos dias de sintonia total!
* Serendipity - Em ingles significa o ato de descobrir algo revelador ao acaso.
Lilian Kogan
Ramayana para as Mulheres ....
Em cada templo hinduísta, em cada dança ou artesanato, o épico Ramayana é louvado.
Em suma,o príncipe Rama sai à procura de sua amada Sita, a mesma havia sido sequestrada por Ravana, o rei demônio.
Cada vez que ouvíamos essa história (que por sinal é linda e repleta de símbolos psicológicos, como todas as epopéias) olhávamos uma para a outra e sorríamos em cumplicidade.
Somos amigas de muitos anos, com histórias muito profundas de vida que se entrelaçaram ao longo dos últimos anos.
Nossos sorrisos de cumplicidade à Sita, tinham por base nossa própria cumplicidade feminina construída ao longo desses anos todos.
E também ,com raízes menos profundas, aos términos recentes de nossos últimos relacionamentos.
Silvia de um longo namoro, e eu, de uma promessa de um amor de verão que acabou durando 4 estacōes.
Falávamos de sintonia, de quando começa a haver interferências que tiram as estaçōes do lugar, desarmonizando o fundo musical, ou ainda, em qual estação deveríamos descer e tomar outros rumos.
Será que a gente sabe de fato? Será que a gente tem ao menos coragem de perceber que algo acabou sem nos dar aviso prévio?
Ou será que o aviso é tão gritante, esta tão na frente dos nossos olhos, que por isso mesmo a gente nao consegue ter a visão im-parcial do todo?
Existe visão imparcial nas questōes do coração?
Acredito ser o coração o órgão mais democrático do nosso corpo; os olhos ,com seu olhar, vem logo a seguir.
Não tem como ditar ordem alguma a ele, não tem como evitar sentir o que ele comanda, ele manda e pronto.
Eu costumo obedecê-lo, e gosto dessa tarefa, mas ele é doce e tirano, duro e maleável, mutante e fixo, ele pode ser colorido e pode ser branco e preto; ele pode ir ficando cinza, a pior cor para um coração.
Ele pode tudo!
A cabeça nem sempre anda de acordo com ele, e daí começa a interminável batalha. Somos experts nisso.
Bem eu sou, acho que Silvia é mais" cool" do que eu nessa questão, ela decide e fica firme, corajosa, às vezes como uma rocha, às vezes como aquela rocha que a água bate nela, vai e volta, se encharca ,bebe dela, saboreia, mas no final continua a ser rocha.
Eu não, eu me misturo com a rocha, com a água, com as tormentas, com tudo mas também pode ser com nada, porque tenho sempre a coragem e a verdade como co-pilotas em minhas decisōes.
Por outro lado, dias atrás ( após uma dança típica balinesa em um templo, que entramos por acaso, andando nas ruas de Ubud) jantando de frente a um lago repleto de flor de lótus e conversando sobre variaçōes sobre o mesmo tema, trocamos algumas percepçōes:
Será que há uma parte tão vaidosa dentro de nós que não aceita os términos, que não aceita que não seremos mais cortejadas?
Será que há uma parte tão desconectada dentro de nós, que não aceita que a admiração e o desejo acabaram, o nosso e o deles?
E, talvez uma parte que poderíamos entregar de bom grado ao Dr Fausto, que numa rica e perversa composição, fechamos os olhos, não queremos ver.
De uma vaidade que dança ao redor dos nossos anseios, sonhos, desejos, aspiraçōes, seja lá o que for, nobre ou não, vai nos consumindo até não sobrar nada que não seja o que já estava lá!
E semanas antes de viajarmos, num grupinho delicioso de amigas íntimas,cozinhando descalças na cozinha acolhedora, rindo, bebendo um bom Bordeaux ,mexendo agilmente no risotto de aspargos frescos,roquefort e pera ( damos a receita!).
Vamos (RE) lembrando (?) umas às outras cenas e mais cenas que presenciamos umas das outras, dentro ou fora desses relacionamentos, com todo respeito que duas ou tres garrafas de vinho podem e devem emprestar a esses solenes momentos.
E por que nesses momentos uma lucidez que estava de férias há tanto tempo, nos incorpora e dizemos:
É claro! É isso mesmo, com eu não vi!?
E por que ao término do jantar, agora já partindo para cima de um sorvete crocante com calda de chocolate e frutas do bosque, e um lindo prato de frutas sortidas ( para minimizar a culpa, e que fica intocado até o dia seguinte).
A gente ainda para e olha para alguma amiga, ou para todas, dependendo do teor etílico a percorrer nosso sangue, e dispara:
Mas você acha mesmo que eu fiz certo em terminar?
E dai segue uma organizadíssima e surpreendente sessão de psicodrama, cada qual revezando no papel da vítima ( nós claro, sempre) X algoz ( eles claro ,sempre).
As gargalhadas são tão intensas nesses momentos, que devo considerar um pedido de desculpas à Jacob L. Moreno ( pai do psicodrama) ,uma vez que não seguimos com a seriedade necessária, a proposta que eu tanto aprecio como linha terapeutica.
Há uma frase de Huxley que discuti muito ao longo das minhas " quatro estaçōes”, após me ser ofertada por um grande amigo de longa data.Daqueles que a gente chama às 00:10, chorando, pedindo colo, ou pedindo um raio de lucidez, para compreender as questōes dos apaixonamentos arrebata-dores!
Aquelas questōes que dançam na mente que não se aquieta.
E quando se aquieta, vem a tirania dos silêncios ensurdecedores...
E mais uma vez, meu grande amigo estava lá me acalmando, num dos inúmeros momentos de infinitas despedidas.
Ele me dizia, que todas as vezes que havia passado por isso re lia essa frase:
“As grandes elevações do espírito, em que às vezes a alma vibra, são
estados onde ela não pode se manter; ela faz aí incursões
acidentais".
Eu não sei o que vocês pensam e gostaria de saber, mas eu sempre discutia isso com P, meu amigo querido e dizia a ele:
Se estamos caminhando para algo mais verdadeiro, honesto, real, que agregue um significado elevado de fato à nossa condição humana, não posso concordar com Huxley.
A alma é vibrante, sempre será, a não ser que a adoeçamos, que a percamos de vista, que nos afastemos de nossa essência .
E mesmo assim ela permanence lá, à espreita de ser salva, sempre…
Como Sita....
LK
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Myanmar
Acertem seus relógios para menos 30 minutos, disse a elegante aereomoça ( já queríamos o mesmo Kimono que ela estava usando) da Bangkok Airlines.
Sim, 30 minutos a menos de fuso horário de Bangkok para Yangon!
Ao chegarmos em Myanmar, de fato sentimos vontade de ajustar nossos relógios ( que por sinal nenhuma das duas carregou nessa viagem, causando algumas situaçōes cômicas) para menos 50 anos!
A sensação era de estarmos atravessando um túnel do tempo.
Nosso guia Aung, simpático e delicado como a grande maioria do povo, já nos esperava com sua típica saia longa masculina; Longy, de tecidinho xadrez para os homens e floral para as mulheres, parecendo uma canga, e que confere a todos um ar elegante e sensual.
No caminho para o Strand Hotel, esse merece um capítulo à parte, foi nos explicando situaçōes corriqueiras da cidade.
E claro, com muita delicadeza, ia desviando o assunto de todas nossas investidas com relação ao governo militar e suas decorrências.
Passados 5 dias e com mais confiança, Aung foi aos poucos comentando sobre a situação política do seu país, o qual deixou somente uma única vez ao longo de seus 32 anos, a convite, e como guia de um casal suiço, por 15 dias.
Chegou a pedir que nossas perguntas fossem mantidas sempre dentro do veículo, um carro mal conservado, com mais de 11 anos de uso e comprado há pouco tempo no valor de US$27.000,00.
Interessante como queremos sempre entender e encaixar algo novo com o olhar do que já conhecemos, e Myanmar nos ensinou a relaxar e realmente abrir espaço para algo que jamais vimos em nossas vidas, quase indescritível.
Sons constantes de buzinas estridentes, eles não usam o espelhinho retrovisor!
Aromas desconhecidos esparramados no mercado ao ar livre; oraçōes islâmicas expectoradas por alto - falantes; jovens te puxando para comprar algo em suas barraquinhas; a meiguice crescente das mulheres lindas segurando suavemente sua mão e te mostrando algo ou pedindo batons ou perfumes em troca de uma pulseira ou caixinha de laca ( não aceitam esmolas com toda dignidade) numa cena constante por toda Myanmar.
Crianças afetuosas vendendo seus sininhos, leques e colares de jade em 3 ou 4 idiomas que aprenderam com os turistas; estudantes com suas "longys" verdes, camisas impecávelmente brancas e bolsa/sacola de lã vermelha, voltando alegres da escola; mulheres super femininas banhando-se no rio; filas e filas de motoqueiros à espera de comprar gasolina mais barata vendida dentro de garrafas de plástico de água mineral nas barraquinhas ao longo das estradas.
Templos e Pagodas emergindo da terra numa cena de tirar o fôlego; carroças de bois; monges em trajes beterraba caminhando descalços pelas ruas em sinal de desapego; ingleses pilotando balōes; idosos, jovens e criancinhas usando a esbranquiçada pasta "Thanakha" como protetor solar geométricamente aplicada ao rosto ,conferindo um ar divertido!
Moças vendendo pequenos passáros e até corujinhas enfurnadas em minúsculas gaiolas de palha para serem libertadas pelo seu comprador (impossível não fazer a correlação com a vida delas).
Tudo isso misturado às brumas do amanhecer e a constante poeira vermelha que paira sobre as cidades, nos faz esquecer do estado ditatorial que domina esse povo.
Talvez por serem mais pacíficos que os ocidentais, ou mais conformados, ou mais espiritualizados ( isso também é um capítulo à parte, não a espiritualidade em si, mas a passividade sob a espiritualidade da pobreza) ficamos com a impressão de que a miséria por lá não aparece, embora a pobreza seja muito grande.
Obviamente, como todo governo militar,você olha em volta e não vê ( nem poderia ver) saída, em todos os sensos.
Aung nos diz que muitos adolescentes, se conseguem, deixam o país para estudar fora.E isso pode ser um agente transformador em um futuro próximo na política interna; tomara!
À noite, no Strand Hotel ( aquele mesmo do capítulo à parte) onde já hospedou Somerset Maugham e George Orwell, enquanto tentávamos lembrar desse tempo militar no Brasil, e por sermos jovens demais na época e pouca vivência politica, não tinhamos muitas referências , iamos portanto , atraves dessa falta , bebendo nosso vinho da Nova Zelândia, sem o compromisso de quem sentiu na pele a dor da repressão e conversando sobre temas que pareciam tão distantes de nós, mais uma vez...
Ia contando à Silvia, de uma época em minha vida lá pelos meus 19 anos, a mesma em que conjugava minha entrada na PUC, com um livro que " caiu" em minhas mãos, Inventário de Cicatrizes, de Alex Polari.
Esse foi o gatilho para uma sucessão bastante obsessiva de leituras intermináveis que durou uns bons 2 anos, sobre muitos presos políticos na época da ditadura.
E por esses entrelaçamentos da vida, anos mais tarde, conheci um deles pessoalmente, preservarei seu nome aqui.
Mas lembro com muita nitidez que me causava até um certo constrangimento em vários momentos, em nossas conversas, a fragilidade, medo e a eterna desconfiança que esse homem vivia a todo momento.
Ele nunca mais teria paz na vida, mesmo sendo agora uma pessoa de/no " poder", essas eram suas palavras.
Lembrei-me agora ao escrever tudo isso do livro "Recordaçōes da Casa dos Mortos" de Dostoevsky, que também devorei nessa mesma época, e que fala muito o que meu amigo ex preso político me falava.
Fica impresso na pele, na alma , para sempre.
Iamos alinhando todas essas dolorosas histórias ao pouco que conseguimos perceber através da passividade e obediência desse povo maravilhoso.
O desejo humano mais genuíno é a liberdade, é nosso direito e bem maior, e devemos viver e jamais esquecer disso a cada instante de nossas vidas.
Os muros derrubados estão ai como provas, ao menos físicas...
De qualquer forma apesar de não nos agradar nenhum pouco a idéia de passarinhos poderem ser presos para serem libertados, e apesar de sabermos que ao comprar uma gaiolinha incentivamos essa atitude mais e mais, não resistimos à idéia mesmo que simbólicamente, de soltar esses passarinhos para que eles pudessem voar em liberdade!
LK
Sim, 30 minutos a menos de fuso horário de Bangkok para Yangon!
Ao chegarmos em Myanmar, de fato sentimos vontade de ajustar nossos relógios ( que por sinal nenhuma das duas carregou nessa viagem, causando algumas situaçōes cômicas) para menos 50 anos!
A sensação era de estarmos atravessando um túnel do tempo.
Nosso guia Aung, simpático e delicado como a grande maioria do povo, já nos esperava com sua típica saia longa masculina; Longy, de tecidinho xadrez para os homens e floral para as mulheres, parecendo uma canga, e que confere a todos um ar elegante e sensual.
No caminho para o Strand Hotel, esse merece um capítulo à parte, foi nos explicando situaçōes corriqueiras da cidade.
E claro, com muita delicadeza, ia desviando o assunto de todas nossas investidas com relação ao governo militar e suas decorrências.
Passados 5 dias e com mais confiança, Aung foi aos poucos comentando sobre a situação política do seu país, o qual deixou somente uma única vez ao longo de seus 32 anos, a convite, e como guia de um casal suiço, por 15 dias.
Chegou a pedir que nossas perguntas fossem mantidas sempre dentro do veículo, um carro mal conservado, com mais de 11 anos de uso e comprado há pouco tempo no valor de US$27.000,00.
Interessante como queremos sempre entender e encaixar algo novo com o olhar do que já conhecemos, e Myanmar nos ensinou a relaxar e realmente abrir espaço para algo que jamais vimos em nossas vidas, quase indescritível.
Sons constantes de buzinas estridentes, eles não usam o espelhinho retrovisor!
Aromas desconhecidos esparramados no mercado ao ar livre; oraçōes islâmicas expectoradas por alto - falantes; jovens te puxando para comprar algo em suas barraquinhas; a meiguice crescente das mulheres lindas segurando suavemente sua mão e te mostrando algo ou pedindo batons ou perfumes em troca de uma pulseira ou caixinha de laca ( não aceitam esmolas com toda dignidade) numa cena constante por toda Myanmar.
Crianças afetuosas vendendo seus sininhos, leques e colares de jade em 3 ou 4 idiomas que aprenderam com os turistas; estudantes com suas "longys" verdes, camisas impecávelmente brancas e bolsa/sacola de lã vermelha, voltando alegres da escola; mulheres super femininas banhando-se no rio; filas e filas de motoqueiros à espera de comprar gasolina mais barata vendida dentro de garrafas de plástico de água mineral nas barraquinhas ao longo das estradas.
Templos e Pagodas emergindo da terra numa cena de tirar o fôlego; carroças de bois; monges em trajes beterraba caminhando descalços pelas ruas em sinal de desapego; ingleses pilotando balōes; idosos, jovens e criancinhas usando a esbranquiçada pasta "Thanakha" como protetor solar geométricamente aplicada ao rosto ,conferindo um ar divertido!
Moças vendendo pequenos passáros e até corujinhas enfurnadas em minúsculas gaiolas de palha para serem libertadas pelo seu comprador (impossível não fazer a correlação com a vida delas).
Tudo isso misturado às brumas do amanhecer e a constante poeira vermelha que paira sobre as cidades, nos faz esquecer do estado ditatorial que domina esse povo.
Talvez por serem mais pacíficos que os ocidentais, ou mais conformados, ou mais espiritualizados ( isso também é um capítulo à parte, não a espiritualidade em si, mas a passividade sob a espiritualidade da pobreza) ficamos com a impressão de que a miséria por lá não aparece, embora a pobreza seja muito grande.
Obviamente, como todo governo militar,você olha em volta e não vê ( nem poderia ver) saída, em todos os sensos.
Aung nos diz que muitos adolescentes, se conseguem, deixam o país para estudar fora.E isso pode ser um agente transformador em um futuro próximo na política interna; tomara!
À noite, no Strand Hotel ( aquele mesmo do capítulo à parte) onde já hospedou Somerset Maugham e George Orwell, enquanto tentávamos lembrar desse tempo militar no Brasil, e por sermos jovens demais na época e pouca vivência politica, não tinhamos muitas referências , iamos portanto , atraves dessa falta , bebendo nosso vinho da Nova Zelândia, sem o compromisso de quem sentiu na pele a dor da repressão e conversando sobre temas que pareciam tão distantes de nós, mais uma vez...
Ia contando à Silvia, de uma época em minha vida lá pelos meus 19 anos, a mesma em que conjugava minha entrada na PUC, com um livro que " caiu" em minhas mãos, Inventário de Cicatrizes, de Alex Polari.
Esse foi o gatilho para uma sucessão bastante obsessiva de leituras intermináveis que durou uns bons 2 anos, sobre muitos presos políticos na época da ditadura.
E por esses entrelaçamentos da vida, anos mais tarde, conheci um deles pessoalmente, preservarei seu nome aqui.
Mas lembro com muita nitidez que me causava até um certo constrangimento em vários momentos, em nossas conversas, a fragilidade, medo e a eterna desconfiança que esse homem vivia a todo momento.
Ele nunca mais teria paz na vida, mesmo sendo agora uma pessoa de/no " poder", essas eram suas palavras.
Lembrei-me agora ao escrever tudo isso do livro "Recordaçōes da Casa dos Mortos" de Dostoevsky, que também devorei nessa mesma época, e que fala muito o que meu amigo ex preso político me falava.
Fica impresso na pele, na alma , para sempre.
Iamos alinhando todas essas dolorosas histórias ao pouco que conseguimos perceber através da passividade e obediência desse povo maravilhoso.
O desejo humano mais genuíno é a liberdade, é nosso direito e bem maior, e devemos viver e jamais esquecer disso a cada instante de nossas vidas.
Os muros derrubados estão ai como provas, ao menos físicas...
De qualquer forma apesar de não nos agradar nenhum pouco a idéia de passarinhos poderem ser presos para serem libertados, e apesar de sabermos que ao comprar uma gaiolinha incentivamos essa atitude mais e mais, não resistimos à idéia mesmo que simbólicamente, de soltar esses passarinhos para que eles pudessem voar em liberdade!
LK
sábado, 29 de janeiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Anti Corpos Emocionais?
Este foi um daqueles momentos que não conseguimos decifrar o sentido da vida.
O precário estado em que se encontram essas crianças e suas famílias nos deixou perplexas, impotentes, frente a algo que não temos a dimensão do "por quê ou do para que"?
Começamos talvez por defesa, a divagar sobre o que é felicidade, jogando uma para a outra a pergunta: Mas você acha que pode haver felicidade nessa forma de viver? Ou ainda: Mas você acha que isso foi uma escolha, vir dessa forma?
Aprendizes que somos (ou tentamos ser) das leis do Karma e Dharma, sutilmente fomos depositando nossas impotências em algo muito mais longínquo da nossa angústia presencial, nos distanciando cada vez mais da nossa própria precariedade de compreensão.
A nossa falta de preparo para tal situação nos protegia de qualquer tentativa de encontrar uma resposta, pois essa implicaria diretamente numa ação.
Deixamos (?) aquele local tristes e sabedoras de que muito pouco podemos fazer, na verdade nada podemos fazer.
Em minha mente rodavam perguntas e respostas sem o menor rumo, desconectadas entre si.
Havíamos acabado de comprar, um pouco antes , numa loja -pega turista," amuletos de jade", sim amuletos para nos proteger!
Com essa mesma quantia eu talvez pudesse verdadeiramente proteger essas crianças por 1 semana, ou pior, um mes?
E só conseguimos chegar a esta conclusão um tanto confortável, para não dizer egoista, narcísica e seus desdobramentos.
Temos excesso de anti corpos emocionais para compreender tudo isso !
Triste.
LK
Siem Reap-Camboja
Floating Houses-Jan/2011
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